Meus cabelos
cacheados caíam sobre os meus ombros, se movimentando em um ritmo perfeito e
harmônico, podia sentir meu vestido esvoaçar pelo vento, enquanto corria sem me
preocupar com as pessoas em meu caminho. Desviava-me de vários rostos
desconhecidos, “qual seria as suas historias? poderiam estar atrasado como eu, ou poderiam estar indo ao encontro do grande amor”, perdendo-me em meus
pensamentos, tropecei em meus pés, caindo em cima de um rapaz, derrubando
nossos livros no chão, sem sequer olhar em seu rosto, disparei diversos murmúrios
me desculpando enquanto ajuntava os seus pertences.
–Me desculpe? –pedi ao desconhecido que
ria de mim. Irritada pela falta de senso do rapaz, devolvi seus livros
bruscamente.
–Me perdoe
senhorita? –o desconhecido pediu me estendendo a mão. -Não foi a minha intenção.
Seus olhos verdes
eram cativantes, eles se destacavam ainda mais por causa da cor escura do seu
cabelo e os traços brancos de seu rosto. Ele abrirá um sorriso meio-torto, envergonhado
e claramente se desculpando, meu coração chegou a palpitar “que homem é esse”, pensei comigo mesma. Interrompendo-o
disse:
–Não se preocupe, não estou irritada.
–disse dispensando sua mão, saindo andando sem olhar para traz. Cheguei
atrasada na escola e não me deixaram entrar na aula, sem muita alternativa voltei
para minha casa.
Em meu tempo livro, comecei a escrever um
romance, estava faltando apenas três capítulos para termina-lo, mas a
inspiração não vinha, procurei o meu caderno entre meus livros na bolsa para
continuar, porém não encontrei ao invés de meu caderno rabiscado com um romance
male acabado, nele continha vários poemas, transparentes, profundos e que
tocavam a nossa alma. Apaixonada pela leitura, o livro fora terminado em uma
tarde.
Enquanto eu lia os versos escritos por esse
escritor desconhecido, eu podia sentir as lágrimas rolarem pelos meus olhos,
ali estava à vida de um estranho, contada em prosa. Apaixonei-me por aquelas
verdades, pelas suas dores, seus sonhos e desilusões. Eram tão parecidos com as
minhas, me identifiquei em cada frase escrita. Procurei o nome do dono desse
caderno, em sua capa estava escrito ‘Eduardo Chase’, tentei achar mais alguma
informação, um endereço para devolvê-lo, mas não consegui encontrar nada, só
lembraria o rosto de um estranho que trombei em uma rua, e o vi parti.
Os anos se passaram, já não pensava mais
no dono daquele caderno, segui com a minha vida, estava cursando a faculdade de
medicina, que eu sempre sonhei e em um desses meus dias rotineiros, eu andava
apressada pelos corredores da faculdade e trombei com um rapaz, meu corpo ardeu
com aquela sensação de dejavu e ao erguer o meu rosto, pude me sentir corar, eu
reconheceria aqueles olhos em uma multidão, com o coração disparado e o corpo
travado, minha única reação foi sussurrar o seu nome, Eduardo.
A minha leitura foi interrompida por uma
senhora, minha avó, sentada em sua cadeira de balanço no fundo da sala, todos
os outros pacientes voltaram sua visão para ela que continuou declamando cada
palavra escrita no diário que eu estava lendo.
"Seguramos nossas mãos nos olhando com ternura, como se conhecêssemos cada segredo um do outro. Sem pensar duas vezes, nos beijamos e depois desse dia, não se passou um nascer do sol sem ele ao meu lado".
Fran
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