terça-feira, 9 de maio de 2017

Um conto de rua!

Meus cabelos cacheados caíam sobre os meus ombros, se movimentando em um ritmo perfeito e harmônico, podia sentir meu vestido esvoaçar pelo vento, enquanto corria sem me preocupar com as pessoas em meu caminho. Desviava-me de vários rostos desconhecidos, “qual seria as suas historias? poderiam estar atrasado como eu, ou poderiam estar indo ao encontro do grande amor”, perdendo-me em meus pensamentos, tropecei em meus pés, caindo em cima de um rapaz, derrubando nossos livros no chão, sem sequer olhar em seu rosto, disparei diversos murmúrios me desculpando enquanto ajuntava os seus pertences.
–Me desculpe? –pedi ao desconhecido que ria de mim. Irritada pela falta de senso do rapaz, devolvi seus livros bruscamente.
–Me perdoe senhorita? –o desconhecido pediu me estendendo a mão. -Não foi a minha intenção.
Seus olhos verdes eram cativantes, eles se destacavam ainda mais por causa da cor escura do seu cabelo e os traços brancos de seu rosto. Ele abrirá um sorriso meio-torto, envergonhado e claramente se desculpando, meu coração chegou a palpitar “que homem é esse”, pensei comigo mesma. Interrompendo-o disse:
–Não se preocupe, não estou irritada. –disse dispensando sua mão, saindo andando sem olhar para traz. Cheguei atrasada na escola e não me deixaram entrar na aula, sem muita alternativa voltei para minha casa.
Em meu tempo livro, comecei a escrever um romance, estava faltando apenas três capítulos para termina-lo, mas a inspiração não vinha, procurei o meu caderno entre meus livros na bolsa para continuar, porém não encontrei ao invés de meu caderno rabiscado com um romance male acabado, nele continha vários poemas, transparentes, profundos e que tocavam a nossa alma. Apaixonada pela leitura, o livro fora terminado em uma tarde.
Enquanto eu lia os versos escritos por esse escritor desconhecido, eu podia sentir as lágrimas rolarem pelos meus olhos, ali estava à vida de um estranho, contada em prosa. Apaixonei-me por aquelas verdades, pelas suas dores, seus sonhos e desilusões. Eram tão parecidos com as minhas, me identifiquei em cada frase escrita. Procurei o nome do dono desse caderno, em sua capa estava escrito ‘Eduardo Chase’, tentei achar mais alguma informação, um endereço para devolvê-lo, mas não consegui encontrar nada, só lembraria o rosto de um estranho que trombei em uma rua, e o vi parti.
Os anos se passaram, já não pensava mais no dono daquele caderno, segui com a minha vida, estava cursando a faculdade de medicina, que eu sempre sonhei e em um desses meus dias rotineiros, eu andava apressada pelos corredores da faculdade e trombei com um rapaz, meu corpo ardeu com aquela sensação de dejavu e ao erguer o meu rosto, pude me sentir corar, eu reconheceria aqueles olhos em uma multidão, com o coração disparado e o corpo travado, minha única reação foi sussurrar o seu nome, Eduardo.

A minha leitura foi interrompida por uma senhora, minha avó, sentada em sua cadeira de balanço no fundo da sala, todos os outros pacientes voltaram sua visão para ela que continuou declamando cada palavra escrita no diário que eu estava lendo.

"Seguramos nossas mãos nos olhando com ternura, como se conhecêssemos cada segredo um do outro. Sem pensar duas vezes, nos beijamos e depois desse dia, não se passou um nascer do sol sem ele ao meu lado".
                                                                                
                                                                    Fran

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